BRASÍLIA - A confirmação da presença do agente causador da doença da vaca louca em uma matriz bovina, que há dois anos teve morte súbita numa fazenda em Sertanópolis, no Paraná, causou apreensão na pecuária brasileira. O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Enio Marques Pereira, diz que não se trata de um caso clássico da doença, mas de um fato isolado, tanto que a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) manteve o status brasileiro de "risco insignificante" para a enfermidade.
O governo brasileiro está preparado para contestar as possíveis restrições às exportações de carne. Enio Marques avisou que se houver "decisão precipitada de algum país", o Brasil primeiro dará as explicações bilaterais e se mesmo assim as restrições forem mantidas irá pedir a aplicação do acordo sobre medidas sanitárias da Organização Mundial de Comércio (OMC), podendo até recorrer a um painel.
As autoridades da defesa agropecuária reiteram que não houve ocorrência da vaca louca no Brasil, pois o animal de Sertanópolis era apenas um portador da proteína que causa a doença. A morte da fêmea foi provocada por outros motivos, mas os veterinários que foram até a fazenda realizar a exumação do corpo, que estava enterrado há mais de um ano, não chegaram a uma conclusão sobre a causa.
Exames. A veterinária chamada na fazenda para registrar a morte do animal enviou amostras para exames de raiva bovina, que foram negativos. As amostras foram encaminhadas para exames mais apurados em Curitiba, que detectam a vaca louca, mas o laboratório onde o teste seria realizado pegou fogo. Os técnicos enviaram o material para outro laboratório em Minas, onde ficou por mais de um ano em lista de espera. Por isso o resultado só ficou conhecido agora, após as amostras terem sido analisadas na Inglaterra.
O secretário Enio Marques diz que se trata de "uma ocorrência antiga e isolada, que não traz risco nenhum à saúde pública e à sanidade animal do País". Marques lembra que justamente para prevenir a doença, dede 1996 foi suspenso o uso de resíduos animais (como sangue e ossos) na fabricação de rações. O sistema de criação extensivo, a pasto, da pecuária brasileira também é refratário à ocorrência do caso clássico da doença, diz ele.
O diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Guilherme Marques, explica que o serviço de defesa agropecuária trabalha com a hipótese de que o agente (príon) causador da vaca louca encontrado na fêmea morta no Paraná se deve à uma "mutação aleatória", fato que pode ocorrer em qualquer país do mundo.
Por isso, diz ele, não existe a classificação de país livre da vaca louca e sim de risco insignificante. O secretário Enio Marques explica que os 13 anos da vaca morta no Paraná equivale a idade de 80 anos para os humanos, que também sofrem de uma enfermidade degenerativa parecida.